06/10/2009

As greves do ABC paulista


Há 30 anos os movimentos dos trabalhadores enfraqueceram a ditadura e influenciaram o processo de redemocratização do Brasil

A partir de 1978, quando o Brasil ainda vivia sob o regime militar, trabalhadores do maior parque industrial do país, localizado na região do ABC paulista (Santo André, São Bernardo e São Caetano) desencadearam uma série de greves que mobilizaram milhares de operários e conquistaram o apoio de partidos políticos, entidades da sociedade civil e naturalmente a simpatia da população.


Os trabalhadores do ABC paulista foram além das reivindicações por aumento salarial e melhores condições de trabalho e passaram a defender também a grande bandeira democrática das eleições das eleições diretas em todos os níveis, inclusive para presidente da República, o que justifica o apoio da população ao movimento.

Dos movimentos grevista que eclodiram em meados de 1978 e adentraram na década de 80 nasceram das instituições que deram maior força e caráter organizacional às grande mobilizações pelo país afora: CUT (Central Única dos Trabalhadores) e o PT (Partido dos Trabalhadores), presididas, respectivamente, por Jair Menenguelle e Luís Inácio Lula da Silva (Lula).

Com essas duas frentes de combate, os trabalhadores, liderados pelos sindicalistas, estenderam o movimento nos anos 80 para todos os estados da Federação. Com papéis distintos e perseguindo os mesmos objetivos, as duas entidades atuavam em parceria. Enquanto a CUT planejava e organizava as greves por todo o país, naturalmente tendo o ABC paulista como seu epicentro, o PT marchava pelas ruas em defesa do regime democrático, ao lado dos partidos de esquerda da época, como o PMDB, o PDT e o PCdoB, a frente democrática que pregava eleições diretas.

É claro que esses movimentos ganharam a adesão da grande maioria da população e isso causou inquietação nos quartéis. O movimento era de abertura política e, então, plantava-se boa semente em terreno fértil. As grandes nações, como Estados Unidos e países europeus, já não apoiavam os regimes totalitários em crise de credibilidade na América Latina, patrocinadores de atrocidades, com prisões, torturas, atentados e assassinatos de líderes oposicionistas e a corrupção desenfreada, fatos que assustavam o mundo.

O movimento sindical dos anos 80 deu larga contribuição para a redemocratização do Brasil porque despertou as massas adormecidas pelo medo e pela repressão dos anos de chumbo que se sucederam ao golpe militar de 31 de março de 1964.

Com a credibilidade em baixa no cenário internacional e a recessão econômica prejudicando a economia, o governo militar amargava índices altíssimos de impopularidade em 1978, quando o MDB, partido de oposição ao regime, elegeu a maioria da Câmara dos Deputados. Foi aí que os generais criaram a figura do “senador biônico”, ou seja, instituíram a prorrogação de mandato dos senadores da Arena, partido da situação.

A reabertura democrática se deu em derramamento de sangue e sem tanques de guerra nas ruas. Uma breve cronologia dos fatos mais importantes, citamos a anistia dos presos e exilados políticos decretada em 1979 pelo presidente João Figueiredo. Ao retornarem do exílio em 1980, Miguel Arraes (Pernambuco), Leonel Brizola (Rio Grande do Sul/Rio de Janeiro) e outras lideranças políticas se engajaram no movimento democrático já existente no país, que culminou com a eleição de Tancredo Neves para presidente da República pelo Colégio Eleitoral em 1984, depois da derrota da emenda das “Diretas”, do deputado federal Dante de Oliveira.

Embora a eleição tenha sido indireta, Tancredo percorreu o país em campanha e obteve o apoio da grande maioria da população brasileira. Tancredo morreu sem tomar posse e o vice, José Sarney, egresso da ditadura, manteve seu compromisso e deu ao país a Constituição Democrática de 1988, que assegura dentre outras conquistas, eleições diretas para todos os níveis. Três décadas depois do surgimento do movimento sindical, o país não esqueceu – e irá lembrar sempre – da sua decisiva contribuição para a redemocratização do país.



* Tony Borges é licenciado em
Letras (Faculdade de Araripina-P),
bacharel em Direito (UESPI) e
acadêmico de Jornalismo
pela Faculdade R. Sá

MOVIMENTOS SINDICAIS

Movimentos Sindicais, populares e políticos sempre tiveram o cartaz como instrumento básico de comunicação com a população. Ficaram na memória de antigos militares inúmeras imagens que povoaram esse universo. No início da década de 1970, era comum ver crianças colecionarem álbuns de figurinhas que prometiam brindes-surpresa para quem achasse a figurinha premiada. Muitas vezes, em vez de um esperado jogo de dominó, o prêmio era um cartaz grande e colorido do general Emílio Garrastazu Médici, presidente do país. Eram tempos de “Brasil: Ame-o ou Deixe-o”, da ditadura militara e do culto as personalidades do regime. Muitos daqueles colecionadores mirins só ficaram sabendo anos depois quem foi Médici. Na mesma época, nas grandes cidades espalhavam-se cartazes produzidos por órgãos policiais onde se liam “Terroristas assassinos procurados” com fotos de militares que combatiam o regime instalado. Cartazes enormes, de cor amarela, com fotos em preto e branco incentivando a delação de inimigos da ditadura.


Com a entrada em cena do movimento sindical no fim da mesma década, outros cartazes passaram a ser produzidos. Reproduziam imagens do movimento operário do início do século XX, principalmente de anarquistas e relacionadas à Revolução Russa, além de convocações para assembléias e manifestações, como as comemorações de 1° de maio. Reivindicações de categorias também passaram a ser estampadas em cartazes, acompanhadas de ilustrações e personagens que circulavam na imprensa sindical, como João Ferrador, desenhado pelos cartunistas Laerte, Vargas e Cleiton para os metalúrgicos de São Bernardo do Campo, e a Graúna, personagem criada por Henfil, com sua frase emblemática “To vendo uma esperança!”. Em 1979, o artista gráfico Elifas Andreato criou o cartaz “Precisa-se” para arrecadá-la fundos aos comitês de trabalhadores desempregados. Milhares foram vendidos em todo o Brasil. Anos depois, em 1985, outra ilustração foi usada nos cartazes da campanha pela redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais. ”Para viver melhor” era a frase que acompanhava a ilustração do artista Paulo Monteiro no cartaz que percorreu todo o Brasil divulgando a reivindicação do Movimento Sindical.

Enquanto o Brasil urbano utilizava os cartazes como instrumentos de divulgação de suas reivindicações e mobilizações, o Brasil rural usava-os como instrumentos de denúncia. Na década de 1980, centenas de trabalhadores rurais foram assassinadas em todo o Brasil na luta pela a terra. Os cartazes, em vez de trazerem as fotografias dos assassinos procurados, traziam as fotografias dos sindicalistas mortos, como se os vivos invocassem proteção por meio das denúncias. Poucos assassinos foram julgados e condenados. Um dos primeiros sindicalistas mortos por pistoleiros foi Wilson Pinheiro, assassinado com tiros nas costas em 21 de julho de 1980 na sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia, no Acre, enquanto assistia à televisão. O Sindicato fez cartaz denunciando seu assassinato e o Partido dos Trabalhadores prestou-lhe uma homenagem dando seu nome a fundação de estudos e pesquisas do partido. Poucos anos depois, em 12 de agosto de 1983, foi assassinada em Alagoa Grande, na Paraíba, Margarida Maria Alves, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais. É atribuída a Margarida a frase “É melhor morrer na luta que morrer de fome”, e ela lutou muito pelos direitos de trabalhadores e trabalhadoras do campo, como registro em carteira, férias, 13° salário e jornada de 8 horas. Centenas de ações tramitaram na Justiça do Trabalho da Paraíba contra usineiros, despertando o ódio de muitos e provocando seu assassinato com um tiro no rosto em frente a sua casa. Até hoje, a fotografia de Margarida é reproduzida em cartazes relacionados à luta dos trabalhadores do campo e das mulheres.

Outros trabalhadores rurais, sindicalistas e militantes ligados à luta pela terra foram assassinados e suas mortes denunciadas em cartazes: Nativo da Natividade, em Goiás; Sebastião Lan, no Rio de Janeiro; padre Josimo e Paulo Fonteles, no Pará; Rosele Salete, no Rio Grande do Sul. No meio de tantos assassinatos, o de maior repercussão foi o do seringueiro e ambientalista Chico Mendes, morto em 22 de dezembro de 1988, em Xapuri, no Acre. Chico Mendes era presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Xapuri e membro do Conselho Nacional dos Seringueiros. Sua luta em defesa dos seringueiros e da Amazônia teve repercussão nacional e internacional, e ele recebeu inúmeros prêmios como uma das pessoas que mais se destacava na defesa da ecologia. Entre as principais propostas de Chico Mendes estava a criação da União dos Povos da Floresta, que unia interesses dos índios, seringueiros e trabalhadores rurais para a preservação da floresta, criação de reservas extrativistas, reforma agrária e desenvolvimento sustentável.


Roberio Borges aluno do curso de comunicação social da faculdade Rsá

02/10/2009

O papel da Mídia que veiculou tanto apoio como critica na Ditadura Militar

Para se conhecer melhor o que foram os anos de chumbo (a Ditadura Militar), sem dúvida, é relevante lembrar o papel da mídia. A maior parte da grande imprensa brasileira cerrou fileiras ao lado dos golpistas, passando por cima das pesquisas de opinião pública que apontavam grande apoio popular às reformas de base que o presidente constitucional tentava levar adiante. Os resultados dessas pesquisas feitas pelo IBOPE, indicando total apoio a Goulart foram omitidos e só revelados mais tarde. Antes de 1 de abril de 1964, os principais jornais, de O Globo, JB e a Tribuna da Imprensa, passando pelo Correio da Manhã, Diário de Notícias e pelos órgãos dos Diários Associados de Assis Chateaubriand, pregavam o golpe abertamente. Alguns, como o Correio da Manhã, uma semana depois da deposição do Presidente constitucional, se arrependeram. A Tribuna da Imprensa deu uma guinada de 180 graus, passando pouco tempo depois a fazer oposição e sendo o jornal diário que mais tempo sofreu a ação da censura. Vale o registro histórico do jornal Última Hora, de Samuel Wainer, que sempre esteve ao lado da legalidade democrática e por isso foi perseguido até ser sufocado economicamente, como o Correio da Manhã.



O Globo pode ser considerado o recordista em termos de apoio ao regime militar. Enquanto o arrependido Correio da Manhã enfrentava pressões econômicas por sua oposição à ditadura, vindo inclusive a fechar as portas lá pelo início dos anos 70, as Organizações Globo foram recompensadas a altura, não só nacionalmente, engordando na estufa da ditadura, como a nível internacional, via grupo Time-Life, que possibilitou o surgimento da TV Globo. Uma Comissão Parlamentar de Inquérito, que acabou em pizza, apresenta as provas desse ilegal conluio. As Organizações Globo (seja a TV ou o jornal e mesmo as rádios) eram tão a favor, mas tão a favor dos militares, que muitos as consideravam com uma espécie de Pravda da imprensa brasileira, numa alusão ao órgão oficial do Partido Comunista da União Soviética. O Globo em 68 deu todo apoio ao AI-5, o golpe dentro do golpe que levou o Brasil ainda mais para a direita. Só mais tarde, da mesma forma que os ratos quando abandonam os navios prestes a afundar, os veículos de Roberto Marinho aderiram à “democracia”.

A imprensa internacional de uma forma geral não publicavam muitas notícias sobre o Brasil. O Brasil era na época um país cuja economia nacional era protegida por inúmeras leis protecionistas e os produtos importados eram muito poucos e muito caros, devido aos altos impostos. A reserva de mercado para a informática era questionada pelo governo estadunidense e frequentemente era citada na imprensa brasileira e na TV. Diversos políticos e empresários defendiam esta lei.

O Brasil era apenas citados pelos seus atletas de futebol jogando em clubes europeus ou pela ação de algum evento natural, como chuvas intensas, etc.

Eventualmente o pais era citado pela pelas torturas feitas por policiais, pelos massacres geralmente atribuídos a disputas de drogas entorpecentes, pela alta taxa de assassinatos. Os menbros da Igreja Católica ligados a Teologia da Libertação divulgar no exterior as chacinas, os desaparecimentos, as perseguições políticas, os sequestros, etc.

Nesta rápida pincelada sobre a mídia nos anos de chumbo, não se pode esquecer o importante papel exercido pela imprensa alternativa em veículos como a Folha da Semana (o primeiro da série de jornais contra a ditadura), O Pasquim, Opinião, Versus, Movimento etc. Tudo isso pertence à história, que por mais que alguns não queiram, está sendo escrita de forma independente com verdades irrefutáveis.


Raimundo N. da Silva Junior: aluno do 3º período de Jornalismo da Faculdade R.Sá