06/10/2009

MOVIMENTOS SINDICAIS

Movimentos Sindicais, populares e políticos sempre tiveram o cartaz como instrumento básico de comunicação com a população. Ficaram na memória de antigos militares inúmeras imagens que povoaram esse universo. No início da década de 1970, era comum ver crianças colecionarem álbuns de figurinhas que prometiam brindes-surpresa para quem achasse a figurinha premiada. Muitas vezes, em vez de um esperado jogo de dominó, o prêmio era um cartaz grande e colorido do general Emílio Garrastazu Médici, presidente do país. Eram tempos de “Brasil: Ame-o ou Deixe-o”, da ditadura militara e do culto as personalidades do regime. Muitos daqueles colecionadores mirins só ficaram sabendo anos depois quem foi Médici. Na mesma época, nas grandes cidades espalhavam-se cartazes produzidos por órgãos policiais onde se liam “Terroristas assassinos procurados” com fotos de militares que combatiam o regime instalado. Cartazes enormes, de cor amarela, com fotos em preto e branco incentivando a delação de inimigos da ditadura.


Com a entrada em cena do movimento sindical no fim da mesma década, outros cartazes passaram a ser produzidos. Reproduziam imagens do movimento operário do início do século XX, principalmente de anarquistas e relacionadas à Revolução Russa, além de convocações para assembléias e manifestações, como as comemorações de 1° de maio. Reivindicações de categorias também passaram a ser estampadas em cartazes, acompanhadas de ilustrações e personagens que circulavam na imprensa sindical, como João Ferrador, desenhado pelos cartunistas Laerte, Vargas e Cleiton para os metalúrgicos de São Bernardo do Campo, e a Graúna, personagem criada por Henfil, com sua frase emblemática “To vendo uma esperança!”. Em 1979, o artista gráfico Elifas Andreato criou o cartaz “Precisa-se” para arrecadá-la fundos aos comitês de trabalhadores desempregados. Milhares foram vendidos em todo o Brasil. Anos depois, em 1985, outra ilustração foi usada nos cartazes da campanha pela redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais. ”Para viver melhor” era a frase que acompanhava a ilustração do artista Paulo Monteiro no cartaz que percorreu todo o Brasil divulgando a reivindicação do Movimento Sindical.

Enquanto o Brasil urbano utilizava os cartazes como instrumentos de divulgação de suas reivindicações e mobilizações, o Brasil rural usava-os como instrumentos de denúncia. Na década de 1980, centenas de trabalhadores rurais foram assassinadas em todo o Brasil na luta pela a terra. Os cartazes, em vez de trazerem as fotografias dos assassinos procurados, traziam as fotografias dos sindicalistas mortos, como se os vivos invocassem proteção por meio das denúncias. Poucos assassinos foram julgados e condenados. Um dos primeiros sindicalistas mortos por pistoleiros foi Wilson Pinheiro, assassinado com tiros nas costas em 21 de julho de 1980 na sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia, no Acre, enquanto assistia à televisão. O Sindicato fez cartaz denunciando seu assassinato e o Partido dos Trabalhadores prestou-lhe uma homenagem dando seu nome a fundação de estudos e pesquisas do partido. Poucos anos depois, em 12 de agosto de 1983, foi assassinada em Alagoa Grande, na Paraíba, Margarida Maria Alves, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais. É atribuída a Margarida a frase “É melhor morrer na luta que morrer de fome”, e ela lutou muito pelos direitos de trabalhadores e trabalhadoras do campo, como registro em carteira, férias, 13° salário e jornada de 8 horas. Centenas de ações tramitaram na Justiça do Trabalho da Paraíba contra usineiros, despertando o ódio de muitos e provocando seu assassinato com um tiro no rosto em frente a sua casa. Até hoje, a fotografia de Margarida é reproduzida em cartazes relacionados à luta dos trabalhadores do campo e das mulheres.

Outros trabalhadores rurais, sindicalistas e militantes ligados à luta pela terra foram assassinados e suas mortes denunciadas em cartazes: Nativo da Natividade, em Goiás; Sebastião Lan, no Rio de Janeiro; padre Josimo e Paulo Fonteles, no Pará; Rosele Salete, no Rio Grande do Sul. No meio de tantos assassinatos, o de maior repercussão foi o do seringueiro e ambientalista Chico Mendes, morto em 22 de dezembro de 1988, em Xapuri, no Acre. Chico Mendes era presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Xapuri e membro do Conselho Nacional dos Seringueiros. Sua luta em defesa dos seringueiros e da Amazônia teve repercussão nacional e internacional, e ele recebeu inúmeros prêmios como uma das pessoas que mais se destacava na defesa da ecologia. Entre as principais propostas de Chico Mendes estava a criação da União dos Povos da Floresta, que unia interesses dos índios, seringueiros e trabalhadores rurais para a preservação da floresta, criação de reservas extrativistas, reforma agrária e desenvolvimento sustentável.


Roberio Borges aluno do curso de comunicação social da faculdade Rsá

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